Schuster Coleção 2017/2018: Poltrona Camafeu

Publicado em 09/02/2018

Em uma entrevista, a poeta canadense Anne Carson afirmou que se a prosa é uma casa, a poesia é um homem em chamas, correndo rapidamente através dessa casa. Na fala de Carson, a poesia é o elemento vivo e pulsante, aquilo que é diferente e perturbador, que instiga o nosso olhar e revira os nossos sentidos. O que isso tem a ver com a Poltrona Camafeu?



Um efeito de “estranhamento” vem logo à mente quando pensamos em formas criativas, que exigem de nós um olhar desautomatizado, diferente daquele que lançamos à maior parte das coisas no nosso dia a dia. É exatamente isso o que nos proporciona a Linha Camafeu, da qual fazem parte cadeira, mesa de centro e poltrona, criações da designer e arquiteta gaúcha Rejane Carvalho Leite. Hoje damos destaque à Poltrona Camafeu, que abrilhanta a  Coleção Schuster 2017/2018.



Rejane, que assina mais de 100 peças para a Schuster, afirma que a inspiração para as suas criações repletas de poeticidade vem da arquitetura, da música, da poesia, das artes plásticas e do cinema. Suas peças demostram uma procura intensa por caminhos alternativos àqueles já traçados, apresentando-nos sempre uma visão diferenciada dos objetos.



Poltrona Camafeu: uma reinvenção da poltrona



A palavra “camafeu” vem do latim, e significa “pedra esculpida”. A Poltrona Camafeu faz alusão à pedra do mesmo nome, de formato redondo ou oval, que possui duas camadas, numa das quais se esculpe uma figura de alto-relevo, muito usada como ornamento e como joia. Os primeiros usos dessa pedra remontam ao séc. 300 a. C., no Egito.



A peça de Rejane constitui não só uma releitura do antigo camafeu, mas do próprio formato da poltrona, daí o efeito de estranhamento, característico da poesia, a que aludimos inicialmente. De fato, quando pensamos na forma “poltrona”, ocorrem-nos normalmente algumas características comuns, reunidas a partir das várias poltronas com as quais já nos deparamos: cadeira maior do que as convencionais, com assento espaçoso, serve para descansar, etc.





A Poltrona Camafeu reinventa essa ideia de fundo, apresentando-nos o objeto como visão singular e não como mero reconhecimento da forma. Aqui reside a beleza deste móvel: a de surpreender o nosso olhar, sugerindo sentidos e instigando-nos a uma reflexão sobre os próprios objetos que nos rodeiam.



Para começar, esta peça de Rejane não possui braços, o que é bastante inusitado para uma poltrona. Por outro lado, o móvel não perde em nada quando o quesito é comodidade. O seu assento é bastante espaçoso, com cerca de um metro de comprimento.



O formato sinuoso, cujo vértice coincide com a região do encosto, foi pensado ergonomicamente para proporcionar conforto. Assim, a ausência de braços e o tamanho do assento parecem estar “abrindo” o móvel, tornando-o convidativo para um sentar se “esparramando” ou mesmo para deitar.  



A qualidade dos materiais da Poltrona Camafeu



A Poltrona Camafeu está disponível em madeira maciça, trabalhada de forma orgânica.  O encosto em formato arredondado, que evoca o camafeu, é produzido em palha de ratam, uma fibra natural de palmeira, que pode acompanhar o acabamento e o tingimento da madeira escolhida para a peça.



O ratam adiciona textura e linhas curvas aos ambientes e é um material maleável, extremamente resistente. Ele remete à natureza, ao “fazer à mão” e proporciona um belo contraste em relação ao aspecto mais rígido e minimalista de alguns móveis contemporâneos. Trata-se, assim, de uma escolha muito feliz para a peça, evocando também o aconchego e a delicadeza que é característico desse tipo de móvel.



Fazendo jus ao seu nome, a Poltrona Camafeu é uma espécie de joia esculpida em madeira. É oportuno, então, retomar a definição de Anne Carson: neste caso, podemos dizer que a forma tradicional de uma poltrona está para a prosa assim como a Poltrona Camafeu está para a poesia.


Veja também